"Sou meio como um mosquito num campo de nudismo; sei o que quero fazer, mas não sei por onde começar." - Stephen Bayne





domingo, 4 de abril de 2010

A vida é muito breve pra ser calculada...

Coisa boa? vai sair coisa ÓTIMA. Eu lembro que quando eu era mais nova, gostava de dançar "brincadeira de criança, como é bom" do Molejo, em frente ao espelho, na aula de lambaeróbica (sei la como escreve isso), em Barra de São João. Barra de São João é uma cidade perto de Rio das Ostras e Búzios, muito humilde, com uma praia simples e encantadora, um nascer do sol inacreditável. Lá, é literalmente um lugar para amar, crescer e ser feliz - acreditem em mim. Entretando, mal sabia eu que, depois de uns 10 anos sem escutar Molejo, eu ia querer tanto dançar em frente ao espelho em uma aula de lambaerobica, mal sabia eu que as minhas preocupações se triplicariam, que minha vida não seria tão fácil quanto uma brincadeira de criança.

Aí é que tá.

Na verdade, eu não quero simplicidade, eu quero uma vida cheia de desafios, mas não necessariamente perdas. Eu quero uma vida onde eu não saiba que amanhã vai chover ou fazer Sol, eu quero simplesmente sair ao ar livre com a roupa que eu acordar e ver se o dia me reservou azul ou cinza. Dançar molejo com 7 anos de idade é muito fácil... Eu pegava a bicicleta rosa caloy velha da casa da minha avó, saia de la, dava uma volta nos quarterões silenciosos de Barra. Era muito bom. Muito bom pra ser verdade. Mas não era um sonho, eu simplesmente tive uma infância que vendia suco no portão de casa por diversão, dava banana pros micos que a vizinha criava, dava nome à eles. Tudo isso me fez perceber que a vida é muito rara pra ser desperdiçada. Eu não vim ao mundo pra aturar desaforos, mentiras ou desapontamentos. Eu vim ao mundo pra viver e ser feliz. E eu sou.

Quando eu tinha uns 13 anos, levei pra cidadezinha minha melhor amiga, pra passar o final de semana lá. Eu devia ter um pouco de vergonha, por saber que não tinha uma Rua das Pedras, ou uma lancha que nos levasse à uma ilha deserta. Era um lugar muito simples e muito mágico, e eu percebi isso quando estávamos andando no Praião, sob um céu muito acizentado, e de repente começou a chover. A gente saiu correndo, deixando nossas marcas de pés pela areia amarela escura. Sentindo os pingos caírem sobre nós, fizemos um pacto, um pacto de não brigarmos nunca, um pacto que foi quebrado - muito bem quebrado por sinal - mas quando estava na hora de nos reconciliar, lembramos na mesma hora daquele momento que só A GENTE tinha vivido, e que ninguém, nesse mundo todo, tinha feito um acordo com a melhor amiga do universo de nunca se separar. Aquele lugar era simplesmente PERFEITO. Eu sabia que tudo que eu precisava estava lá, ou pelo menos nos meus pensamentos...

Crescendo nos verões em Barra de São João, com meus cachinhos loiros e perfeitos e patins rosas e grandes nos pés, meu pai sempre tentava me lembrar a importância daquilo na minha vida. Filho mais velho de um militar rigoroso, meu pai sempre deixou bem claro que subiu na vida, justamente pra um dia poder me proporcionar o que ele não teve. Mas a questão era outra... eu tinha o que ele teve. Eu tinha o amor que ele teve da minha avó, eu era rica de sentimentos, rica por dentro, independente do dinheiro... A unica coisa que eu precisava era estar com a minha família, intacta (ou não). Meu pai me deu valores que outras pessoas não tem, meu pai me mimou, meu pai foi o melhor pai do mundo, melhor amigo, melhor tudo, mesmo se preocupando demais quando não havia a necessidade de o fazer. Meu pai me pegou no colo na chuva, correndo pra que eu não derretesse e desaparecesse pra sempre...

Depois de alguns anos, quando eu já era mais madura, voltei ao lugar tão mágico, que lembrava toda a minha infância. Eu tava com saudade. Eu só ia pra Buzios, Buzios, Buzios... tinha esquecido minhas raízes. Tinha esquecido que a minha formação dependeu da sorveteria SEM NOME, das aulas no segundo andar de dança... das musicas de mamonas assassinas cantadas na pracinha lembrando da minha falecida irmã... minha infância não tinha sido Buzios, e sim BARRA DE SÃO JOÃO. Voltei, e voltei com tudo. Recomecei uma nova etapa que ainda perdura, o tal lugar pra crescer e ser feliz só precisava de mais uma coisa: amar. E eu amei, com todas as minhas forças, e aí sim, o conjunto estava feito. Estava completo. Aí sim eu entendi o porque daquele lugar me fazer tão bem. Eu tinha TUDO ali, tudo e mais um pouco... Eu tinha minha melhor amiga, meu amor, minha família, minha música, meus momentos... tudo que tinha um fim, TUDO. Eu cresci no lugar mágico achando que estava na Terra do Nunca, achando que meus amores e desamores não iriam desaparecer alí. Lá, eu tenho as melhores lembranças da minha vida, é o unico lugar que eu lembro de um contato com a minha irmã... é o unico lugar que eu não tenho medo de barata ou lagartixa no quarto, é o unico lugar que eu ESQUEÇO todos os problemas existentes no mundo.

A minha vida mudou, e eu esqueci desse lugar.

A composição da minha vida mudou, e ela fez eu esquecer a importância que Barra de São João tinha na minha vida. Eu quero que vocês parem um momento e pensem em algum lugar no mundo inteiro que vocês iriam agora, pra esquecer o vestibular, o tio que morreu, o namorado que xifrou, a prova de semana que vem, a briga com a mãe, a traição da 'amiga', eu quero que vocês pensem no melhor lugar, e que entendam, que o MEU lugar, é lá. E por alguns anos (talvez três) eu tenha esquecido disso... riram da minha cara quando eu disse que brincava na pracinha.... a minha vida era aquilo, minha vida era simples e rica, era farta de felicidade, farta de tudo que eu precisava, eu tinha tudo. Por alguns anos (talvez três) eu fechei os olhos pras minhas prioridades, me botei em segundo lugar. E agora, eu percebi que eu posso subir no morro da Prainha, olhar o por-do-sol lá de cima, ver um barco de pescadores e a Ponte que caiu, e TODOS os meus problemas vão desaparecer.

Nenhum filha da puta vai fazer algum problema voltar pra minha cabeça.

Eu percebi que aquele lugar pode curar dores. Eu percebi que posso levar pra lá lembranças, e trazer memórias... Eu percebi que ainda posso subir no segundo andar da escola de dança, ficar em frente ao espelho, e brincar de ser criança de novo. Porque como o Molejo dizia: "é bom". Meus momentos ficaram pra trás, no passado, dentro de uma caixa guardada no meu armário com muito carinho. Mas se todo dia, antes de dormir, eu sentir o cheiro de Barra de São João, eu posso dormir tranquila, porque sei que a magia daquele lugar vai me transportar pra além dos meus sonhos.

E aí sim, eu vou ser feliz, com a minha riqueza interior.
Eu não preciso de ninguém pra me completar, eu sou a minha própria metade.
Escreve isso.

6 comentários:

Daniella Fleury disse...

"E aí sim, eu vou ser feliz, com a minha riqueza interior.
Eu não preciso de ninguém pra me completar, eu sou a minha própria metade."
Não esquece disso.

Bruna disse...

aaaaaaaaaaaah eu amei. é lindo, a coisa mais linda e tão verdadeira. acho que todo mundo que ler seu texto vai ser identificar e lembrar dos bons momentos vividos. que texto maravilhoso, eu fiquei sem palavras! um dos melhores textos amor, sem dúvida alguma !
beeijinhos

aah só pra lembrar(haha): te amo tá !

Janiny Holanda disse...

To Passadaaaa!
MELHOR TEXTOOO DE TODOOS
serio mesmo,que tudoo
hoje voce tocou profudamente
Arrazooouu
vou ler mais uma vez

Unknown disse...

Ouvi dizer que Barra de São João é isso tudo aí mesmo..

Janiny Holanda disse...

To lendoo mais uma veez!
o MELHOR de todoos
beijinhos

Unknown disse...

Carol, vc manda muito beeem!!!
muuitas coisas passaram na minha cabeça lendo esse texto, tou quase sem palavras, juro! e como voce mesma disse: "E aí sim, eu vou ser feliz, com a minha riqueza interior" - sem duvidas, é a MAIOR riqueza da vida!
=*